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terça-feira, 26 de abril de 2011

O CINEASTA SERTANEJO...

Glauber era um sertanejo de Vitória da Conquista. De alma cosmopolita, mas ainda assim um sertanejo, que só desejou reinventar, sob sua ótica singular, esse  universo do sertão.  E o sertão sempre teve um rico imaginário,  cenário   dentro  do  qual  se torna possível   qualquer  idéia  de  criação  artística: a alma sertaneja é aqui o mote, alma simultaneamente revolucionária,  patética, eloquente, emblemática da confusão intelectual e política que sempre esteve no centro da obra  de Glauber:  "minha alma deseja  a  revolução   e  minhas  mãos  trabalham  para  a  revolução.   Porém  o  que é revolução  ?  Uma  revolução   é  a  mudança  total  das  leis  naturais  e   sociais. Uma revolução só pode se realizar quando a morte vence a vida,   porém ao mesmo tempo a morte é  o nada e o nada é contra-revolucionário".
  Vitória  da Conquista  é a  porta de entrada  desse   universo,  naquela  época ainda povoado por estórias (ou fábulas?) de jagunços,  metáforas, amores, paixão, famílias, terra e morte.  Lá Glauber   viveu sua infância,  talvez aí o  motivo pelo qual o Sertão nunca foi deserto em seus filmes, mais que  lugar  ou espaço físico o Sertão é personagem. Ele sempre encontrou uma metáfora para representar a alma sertaneja.Se dizia metafórico  e Barroco, era  cósmico,  genial.  Foi     precursor de uma nova linguagem cinematográfica, pontuada por   aspectos bastante originais, a começar  pelo lema que até hoje gera polêmica:  "uma idéia na cabeça e  uma câmera na mão" ou   "a imagem, rigorasamente, deve ser um vocábulo, e o cineasta deve escrever com imagens".
Glauber criou  uma  linguagem-limite, fruto  da independência criativa do cineasta-artista, vindo de um país de terceiro-mundo, de uma província econômicamente paupérrima porém rica em imaginação e mitologia. Recusou-se a representar simplesmente essa mitologia dita sertaneja,  quis sempre encontrar nela uma forma de expressar sua revolta e com isso contaminar a todos com ela.                Glauber não foi jamais uma personalidade simples, ao contrário, era um ser complexo, de visão multifacetada, como sua obra nunca foi simples, de fácil compreensão.
Para entender e gostar de seus filmes faz-se necessário conhecer certos aspectos e contextos da cultura brasileira. Quais forças culturais permitiram que seu trabalho fosse reconhecido, ganhando prêmios internacionais e se tornando uma das mais importantes figuras intelectuais da cultura brasileira dos anos 60 e 70 ?    Qual conjutura instrumentalizou Glauber ?
  Não tenho dúvidas de que muito da importância da obra de Glauber pode ser creditada à sua eloquência verbal e sua irrefreável vocação para discutir os temas que lhe eram caros: a cultura brasileira, o Cinema Novo, a violência, o amor, a felicidade, o povo a democracia, a Arte e ele próprio. Quem quiser conhecer melhor a vida conturbada e fascinante de Glauber deve ler GLAUBER, ESSE VULCÃO de João Carlos Teixeira Gomes, da Ed. Nova Fronteira. O livro, apesar de certos empolamentos de linguagem e excessos de descrições, é a mais completa e abrangente biografia do cineasta.
  O autor foi  grande amigo de Glauber desde a adolescência em Salvador, consagrando-se como jornalista e importante biógrafo de Gregório de Matos. Fez um impressionante rastreamento dos passos de Glauber, um viajante contumaz, por todo o mundo. 
POR:LUIZ EDMUNDO ALVES...

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